Luanda, Angola – Uma intervenção brutal da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da polícia angolana terminou em tragédia na última terça-feira (29), com a morte de Ana Silvi Mubiala, mãe de quatro filhos, nos arredores de Luanda. O caso está a chocar o país e a comunidade internacional, após denúncias de uso excessivo da força e alegações de execuções extrajudiciais.
Ana Silvi, que se encontrava desarmada, foi baleada mortalmente nas costas quando fugia com o filho após perceber movimentações policiais no bairro Caop, município de Viana. De acordo com o adolescente que a acompanhava, a mãe tinha saído apenas para comprar sabão em pó (Omo), quando a zona foi tomada por disparos.
"Eu e a minha mãe fugimos. Ouvi um tiro a bater a primeira vez, depois veio o segundo e a minha mãe caiu", relatou o filho à Rádio Despertar.
Ela caiu protegendo o filho de um disparo, vestindo uma t-shirt com a frase irónica: "Life is short, don’t be lazy" ("A vida é curta, não sejas preguiçoso"). O filho ainda tentou acordá-la, sem sucesso. O mais novo dos quatro filhos tem apenas sete meses de idade.
A polícia só se pronunciou dois dias depois, alegando que a vítima era estrangeira e que estaria envolvida em actos de pilhagem. O comandante-geral da Polícia Nacional, Francisco da Silva, justificou o disparo com o argumento de autodefesa:
"Lamentamos a morte, mas o agente teve de proteger-se e preservar a autoridade do Estado", afirmou.
A explicação não convenceu a sociedade civil. A ativista Laura Macedo, em declarações à DW, disse que não se tratava de “balas perdidas”, mas sim "balas intencionais", e classificou o acto como parte de uma escalada deliberada de intimidação:
"Ela leva um tiro nas costas. O filho ainda pensa que a mãe tropeçou e diz: 'Mamã, levanta'", lembrou a ativista, visivelmente indignada.
Desde o incidente, a zona tornou-se altamente vigiada, com relatos de supostos agentes à paisana circulando armados e disfarçados, aumentando o clima de medo entre os moradores.
O assassinato de Ana Silvi Mubiala provocou uma onda de indignação nas redes sociais e entre figuras públicas, que exigem justiça e responsabilização por parte das autoridades. O caso reacende o debate sobre violência policial, abusos de poder e o respeito pelos direitos humanos em Angola.
A pressão pública e internacional promete manter este caso em destaque nas próximas semanas, com exigências claras de investigação independente e punição dos envolvidos.
